María Eva Duarte de Perón, conhecida como Evita, (província de  Buenos Aires, 7 de Maio de 1919 — Buenos  Aires, 26 de Julho de 1952) foi uma atriz e líder política  argentina.  Tornou-se primeira-dama da Argentina quando o general Juan Domingo Perón foi eleito presidente"Só me casarei com um príncipe ou um presidente", dizia Maria  Eva Duarte quando vivia em Los Toldos, sua cidade natal no meio do  pampa. Desprezada por todos como filha ilegítima, a criança almejava um  futuro radiante como ouvia nas novelas de rádio, lia nas revistas de  cinema e via nos filmes de Hollywood. O pai, don Juan Duarte,  proprietário de terras, havia literalmente comprado sua mãe, a bela  Juana Ibarguren, em troca de um jumento e uma carroça. Da união nasceram  quatro meninas e um menino. Evita, a caçula, em 7 de maio de 1919. Ela  mal conheceu o pai, que em seguida regressou ao católico lar onde o  esperavam a esposa e filhos legítimos.Dona Juana enfrentou sozinha as  vicissitudes e, quando a caçula Evita estava com 11 anos, mudou-se com  os filhos para Junín, uma vila na mesma província de Buenos Aires. O  preconceito, porém, era igual. Os colegas de escola, por exemplo, não  tinham permissão de cortejar Evita, em razão da origem. Não obstante,  suas três irmãs mais velhas progrediram socialmente. Encontraram  trabalho e fizeram bons casamentos.Restaram os rebeldes: Juancito e Eva,  a sonhadora decidida a tentar a vida no mundo do espetáculo.  Humilhações demais lhe renderam um caráter duplamente genioso e uma  vontade indomável. Aos 15 anos, em um dia 2 de janeiro de 1935, ela  partiu para a capital, Buenos Aires. Apelidada de "Paris da América do  Sul", a cidade fora arruinada pela crise mundial de 1929-30 e dependia  das exportações de carne e de trigo, Eva, pálida e morena, batia  incansavelmente às portas dos teatros. Seu único trunfo, a obstinação.  Fora a teimosia que se tornou lendária, ela não tinha grande coisa a  oferecer. Sem real talento artístico nem extraordinária beleza, ela era  ignorante, arredia. Às humilhações vividas, somaram-se outras. Histórias  bastante banais: diretores que exerciam a sedução, amantes de algumas  horas. À mãe e às irmãs, que lhe suplicavam a volta para Junín,  respondia sempre: "Primeiro, a celebridade"
Em janeiro de 1935, com apenas quinze anos de idade e acompanhada de Agustín Magaldi, cantor de tangos e amigo da família,  considerado o Gardel do interior argentino, Eva partiu para a  capital com uma malinha contendo suas poucas roupas, talvez apenas com  um vestido "de sair" e mais uns trapinhos cuidadosamente lavados e  engomados por Dona Juana. Com dezesseis anos, decidiu seguir a carreira  artística em Buenos Aires. Em 1937 estreou  no cinema  no filme Segundos Afuera  e, em seguida, foi contratada para fazer radionovelas.
Casamento
Casamento de Eva e Juan em 1945
Em 1944  conheceu Juan Domingo Perón, então vice-presidente  da Argentina  e ministro do Trabalho e da Guerra. No ano seguinte, Perón foi preso  por militares descontentes com sua política, voltada  para a obtenção de benefícios para os trabalhadores. Evita, então  apenas a atriz Eva Duarte, organizou comícios populares que forçaram as  autoridades a libertá-lo. Pouco depois se casou com Perón, que se elegeu  presidente em 1946.
Famosa por sua elegância e seu carisma,  Evita conquista para o peronismo o apoio da população pobre, na maioria  migrantes de origem rural a quem ela chamava de "descamisados".
"Ligando a figura mundialmente conhecida, de “Evita”, uma glória ‘hollywoodiana’ de proporções desmedidas, com a moça simples, a criança ultrajada, podemos chegar à conclusão de que Eva foi, possivelmente, uma personalidade dividida. De um lado, repleto de altruísmo e generosidade, há a moça simples, ‘revoltada com a injustiça’, de outro, no entanto, a mulher seduzida pelo poder. No âmago de suas preocupações sociais mais profundas, como o salário e as seguranças empregatícias para a dona de casa, encontra-se uma infância pobre e uma mãe humilhada pelas circunstâncias. Promovida pelo peronismo, e sendo principal fator de legitimação deste, a figura de Eva irá se confundir com a de uma grande estadista. Eva torna-se mais importante do que a própria imagem da Argentina real, uma vez que esta imagem é representada revestida de um aparato e de uma glória que não correspondem à realidade social da época."
satoidi
Carreira política
O mais impressionante na história da vida de Eva foi o caminho  meteórico que ela percorreu na vida pública. Entre a total obscuridade  ao mais absoluto resplendor pessoal e político da vida e em seguida a  morte, tudo ocorreu em apenas 7 anos. Nesse curto período ela saiu do  anonimato para se tornar uma das mulheres mais importantes e poderosas  do mundo. Na breve existência (morreu aos 33 anos de idade) há muitos  mistérios, muitos fatos obscuros mas há principalmente uma personalidade  tragicamente marcante.
"Figura chave de um regime ancorado no paternalismo e na demagogia, Evita resiste, no entanto, como uma imagem ao mesmo tempo alheia e superior ao mesmo. Mais do que uma estadista, mais do que um pivô ou um esteio sobre o qual o governo de Perón se apóia, Evita ganha voz própria porque ela encarnou em si uma série de ambições e de pretensões sociais. Sua transcendência está consubstanciada na sua fantástica ascensão sócio-política. Uma bela mulher, que venceu na vida através dos mecanismos próprios a uma mulher, só poderia espelhar um sistema de poder centrado na sedução. É só através da sedução coletiva das massas, e do fascínio, da ascese que esta sedução acarreta, que pode firmar-se um regime deste tipo."
Em Buenos Aires foi morar com Juancito, seu irmão que servia o  exército na Capital e já trabalhava como vendedor numa fábrica de sabão.  Levavam uma vida difícil, simples, entre as obrigações da sobrevivência  e fins de semana em botecos. Quando sobravam uns trocados desfrutavam o  prazer de um puchero regado a cerveja Quilmes com os amigos da  cidade grande. Eva passava o dia a procura de trabalho em rádios,  revistas e, principalmente, tentando cavar uma chance de trabalhar no  teatro e no cinema. Depois de passar fome, se submeter aos assédios de  canastrões e cafajestes e suarentos do mundo artístico que lhe prometiam  chances condicionadas a algumas horas nas camas vagabundas de pensões  portenhas, Eva acabou por ter a primeira chance concreta no cinema, no  filme Segundos Afuera. Nesse filme, no qual teve um papelzinho  secundário e obtido graças à intervenção de Emilio Kartulowicz, dono da  revista Sintonía ela teve chance de mostrar ao mundo artístico  argentino a total falta de talento para a carreira de atriz. Mas como o  destino sempre se impõe, foi na relação com este mundo que ela teve a  grande chance: conhecer um coronel chamado Juan, o mesmo nome de seu  pai, de seu irmão, da mãe, da sogra, da parteira e e da cidade que  motivou o encontro do casal: San Juan. Era o Coronel Juan Domingo Perón. San Juan havia sido atingida por  um terrível terremoto.
O Coronel Perón, vice-presidente da República e Ministro da  Guerra e Chefe da Secretaria de Trabalho e Provisões, organizou, no  ginásio do Luna Park, em Buenos  Aires, um evento artístico para angariar fundos para as vítimas do  terremoto. Eva, que nessa época já tinha um programa de rádio onde  declamava versos, participava de rádio-novelas e falava sobre a  biografia de mulheres famosas, foi ao evento acompanhada de uma amiga  com quem dividia um quarto de pensão. No evento Eva se aproveitou de um  ligeiro descuido de uma outra atriz principiante que se sentava ao lado  do Coronel na primeira fila de cadeiras. Ela precisou se levantar e Eva  sentou-se nesta poltrona, ao lado do vice-presidente. Encantada e  embevecida por ter ao seu lado aquele homem de 1,90 de altura, porte  atlético, sorriso irresistível e envergando um uniforme militar branco  impecavelmente passado, ficou com as mãos suando, trêmula, mas segura o  bastante para dizer a ele a frase que provavelmente tenha servido para  mudar a história da Argentina pelos futuros 40 anos:"-Coronel, obrigada  por existir." Era 22 de janeiro de 1944.
O escritor argentino Tomás Eloy Martínez, autor de Santa  Evita (1995) garante que essa frase nunca foi pronunciada assim como  outra também atribuída a Evita e até inscrita em bronze em seu túmulo:  "Voltarei e serei milhões". Embora defenda esse ponto de vista, o  escritor acha que isso pouco importa pois escrever a História difere  pouco de inventar história e que a realidade e a ficção, principalmente  na América Latina, se confundem.
Em 1945, durante a festa de comemoração de seus 50 anos, Perón, em  companhia de Eva, Juancito, Domingo Mercante além de alguns poucos  casais e amigos ouviu soar a campainha da porta de entrada de seu  apartamento. Já sem gravata e em mangas de camisa branca o coronel foi  atender a porta. Nesse momento o apartamento foi invadido pelo Cel  Ávalos que, em marcha, informou ao aniversariante, fria e formalmente,  que não havia mais como o exército dar-lhe apoio político e que a  indicação do amigo Nicolini para os Correios fora a gota dágua. No bolso  da camisa branca de Perón, que tinha as mangas arregaçadas até o  cotovelo, se via o alfinete da caneta de pena de ouro há pouco recebida  como presente de aniversário de Juan Ramón Duarte, o Juancito.
Depois da saída do coronel Ávalos, Perón disse a Juan, com um sorriso  enigmático: "Parece que seu presente veio em boa hora. Pelo jeito vou  precisar usá-la para assinar minha renúncia." Embora Juancito não  conseguisse naquele momento entender como poderia alguém dizer uma frase  dessas com um sorriso nos lábios, seu sangue gelou e sentiu que iria  desmaiar. Juancito ainda não havia descoberto como decifrar essa carta  enigmática, a juntar as peças desse quebra-cabeças que atendia pelo nome  de Juan Domingo Perón.
Poucos dias depois Perón foi preso por ordem de Edelmiro Farrel,  então presidente provisório da República. A revolta popular foi  incontrolável e o presidente viu-se com uma batata quente nas mãos.  Fraco e adoentado, Farrel, vendo a temperatura política subir  rapidamente resolveu trasladar Perón da prisão para o hospital militar  em Buenos Aires onde ficou custodiado. Dali Perón negociou e impôs  condições para a própria libertação. Político habilíssimo usou a prisão  como fórmula de vitimização e de mobilização popular a seu favor. Eva,  desesperada, mergulhou de cabeça numa campanha furiosa, desenfreada e  descabelada pela libertação de Perón. Dois dias depois e onze dias após a  prisão, era possível ver de novo, na sacada do Palácio do Governo um  vulto acenando para a multidão de dezenas de milhares de simpatizantes,  sorriso nos lábios, os dois braços ao alto. Era Perón.
Perón, um homem das planícies da Patagônia, um solitário que nunca deixava saber  exatamente o que sentia, tinha uma personalidade peculiar e ambígua. Era  uma pessoa externamente e outra, que nem ele conhecia bem,  internamente. Sempre sorria, conquistava pelo sorriso, mas o que lhe  marcava a complexa e ao mesmo tempo tôsca personalidade era o olhar, o  olhar do caçador de guanacos. Animal típico da Patagônia, o guanaco  exigia de seu caçador extrema habilidade em dissimular. Para fugir da  cusparada venenosa o caçador precisava distrair o animal, fazer algum  gesto ou movimento para desviar seu olhar. Só assim seria possível  abatê-lo. Como hábil caçador de guanacos, o coronel Perón ouviu a  declaração encantada de Eva no Luna Park. Só não sabia que também ela  era uma caçadora proverbial de guanacos e naquele momento pactuou-se ali  uma sociedade de idéias e interesses que os levou aos limites do poder,  da glória, da riqueza e por fim, da ruína, da desmoralização mas jamais  do esquecimento e da indiferença. Os nomes de Eva Perón, a Evita, e  Juan Domingo Perón impregnaram-se de forma definitiva no imaginário do  povo argentino, como ocorre com nossas imagos mais primitivas,  lembranças arquetípicas indeléveis como os registros do DNA  em nossas células.
“Mas nem Mussolini nem Hitler levaram a sua loucura auto-induzida ao ponto de tentarem publicamente usurpar o lugar de Deus. Perón tentou.(...)Foi nesse ponto que começou a divinização de Perón. Evita deu o tom: ‘Só há um Perón...Ele é um Deus para nós...Nosso sol, nosso ar, nossa vida.’ Um ministro de governo equiparou Perón a Cristo, Maomé e Buda, como fundador de uma grande doutrina religiosa! A máquina de propaganda começou a espalhar folhetos e alusões dessa espécie. Ao mesmo tempo, empreendia-se uma campanha para canonizar Evita. Em outubro de 1951, ela foi apresentada a uma multidão peronista como ‘Nossa Senhora da Esperança’ e o próprio Perón rematou a reunião, proclamando um novo feriado, o ‘Dia de Santa Evita’. Depois da morte de Evita, em 1952, a neurose deliberada se agravou. Um porta-voz peronista, falando da sacada do palácio do governo, dirigiu-se a ela como ‘mãe nossa que estais no céu’. Exibiu-se um filme intitulado Evita imortal e a revista Mundo Peronista divulgou na capa uma Evita santificada, a quem não faltava a auréola.”
Por causa da personalidade arrebatada e por ser uma defensora  incansável dos pobres, miseráveis e explorados Eva muitas vezes foi  confundida como sendo uma militante de esquerda , embora nunca o tenha  sido. Ela rejeitava ferrenhamente este rótulo, tendo inclusive muitas  vezes se indisposto com os comunistas ortodoxos da Argentina, que viam  na ação assistencialista até mesmo um fator de atraso nas conquistas da  classe operária. O voto feminino, por exemplo, reivindicação histórica  das mulheres comunistas argentinas, foi implantado por um golpe de  voluntarismo de Evita. Isso irritou profundamente a militância  comunista, como Julieta Lanteri, Carolina Musill, Victoria Ocampo,  Alicia Moreau, que defendiam a tese de que a conquista deveria ser  historicamente conduzida.Quando a lei do voto feminino foi sancionada  por Perón elas disseram: "agora não queremos mais votar".
Quando escolhi ser "Evita" sei que escolhi o caminho  do meu povo. Agora, a quatro anos daquela eleição, fica fácil demonstrar  que efetivamente foi assim. Ninguém senão o povo me chama de "Evita".  Somente aprenderam a me chamar assim os "descamisados".  Os homens do governo, os dirigentes políticos, os embaixadores, os  homens de empresa, profissionais, intelectuais, etc., que me visitam  costumam me chamar de "Senhora"; e alguns inclusive me chamam  publicamente de "Excelentíssima ou Digníssima Senhora" e ainda, às  vezes, "Senhora Presidenta". Eles não vêem em mim mais do que a Eva  Perón. Os descamisados, no entanto, só me conhecem como "Evita". Eu me  apresentei assim pra eles, por outra parte, no dia em que saí ao  encontro dos humildes da minha terra dizendo-lhes que preferia ser a  "Evita" a ser a esposa do Presidente se esse "Evita" servia para mitigar  alguma dor ou enxugar uma lágrima. E, coisa estranha, se os homens do  governo, os dirigentes, os políticos, os embaixadores, os que me chamam  de "Senhora" me chamassem de "Evita" eu acharia talvez tão estranho e  fora de lugar como que se um garoto, um operário ou uma pessoa humilde  do povo me chamasse de "Senhora". Mas creio que eles próprios achariam  ainda mais estranho e ineficaz. Agora se me perguntassem o que é que eu  prefiro, minha resposta não demoraria em sair de mim: gosto mais do meu  nome de povo. Quando um garoto me chama de "Evita" me sinto mãe de todos  os garotos e de todos os fracos e humildes da minha terra. Quando um  operário me chama de "Evita" me sinto com orgulho "companheira" de todos  os homens."  As divergências ideológicas não impediram, depois da sua morte, que  as bandeiras que ela defendia de ódio aos ricos e poderosos, que ela  chamava de oligarcas e da mais absoluta e intransigente defesa dos  pobres e oprimidos fossem violentamente disputadas pela direita, pelo  centro e até pela extrema esquerda, personificada no grupo guerrilheiro  Tupamaro. No entanto, para esses pobres que ela carinhosamente chamava  de grasitas, Evita nunca foi uma líder ideológica. Para eles ela  era muito mais. Era mais que a mulher do grande Perón, mais que uma  benfeitora, mas a líder espiritual da nação argentina, quase uma santa.  Essa ambigüidade conceitual foi sabiamente usada por todas as correntes  ideológicas argentinas que usaram o justicialismo peronista para chegar  ou tentar chegar ao poder depois da chamada Revolução Libertadora, o  golpe de Estado que depôs Perón em 1955.
Morte 
Morreu aos 33 anos, de câncer uterino.  Embalsamado, seu corpo ficou exposto à visitação pública até que,  durante o golpe de Estado que derrubou Perón em 1955, seu  cadáver foi roubado e enterrado em Milão, Itália.  Dezesseis anos mais tarde, em 1971, o corpo  foi exumado e transladado para a Espanha.  Ali foi entregue ao ex-presidente  Perón, que vivia exilado em Madri. O médico argentino que embalsamou Evita  revelou que fora um trabalho perfeito, uma vez que, Evita parecia "uma  boneca" devido a sua baixa estatura, pele alva e vestido de cetim  branco. Após a vinda do esquife da Espanha numa caixa de vidro...Evita  parecia adormecida.
"Evita havia se diluído, estava em todos os lugares! A sua identificação à sua pátria fora tão completa e consumada que agora, morta enquanto integridade física coesa, ela vivia, enquanto mito, em todos os recantos da Argentina.
Perón voltou à Argentina em 1973 e foi  reeleito presidente, tendo a terceira mulher, Isabelita Perón, como vice.  Após sua morte, em 1974, Isabelita Perón trouxe o  corpo de Evita para a Argentina onde foi exposto novamente por um breve  período. Foi então enterrada novamente no mausoléu da família Duarte no cemitério da Recoleta, na cidade de Buenos  Aires.









 
