A insaciável vida sexual de Marlon Brando
Novas revelações mostram sua voracidade. “Você deve saber que estou louco”, dizia ele às secretárias quando as contratava. “E também que sou viciado em sexo.”
“Brando transava com qualquer coisa. Qualquer coisa! Até com uma caixa de correio. [O escritor] James Baldwin. [O ator] Richard Pryor. [O cantor] Marvin Gaye”, declarou recentemente o produtor e músico Quincy Jones. Faz décadas que os amassos entre os astros da Hollywoodclássica geram fofocas, lendas urbanas e biografias não autorizadas, sugerindo que eles não faziam outra coisa. Uma história mítica dos anos sessenta diz que, durante uma festa em sua casa, onde todos os convidados estavam nus, Brando perambulou com um lírio no traseiro. Entre os amantes do ator, incluem-se os suspeitos daquela época: Marilyn Monroe, Marlene Dietrich, Ava Gardner, Rock Hudson, Grace Kelly e James Dean.
Marlon Brando (Nebraska, 1924 – Califórnia, 2004) nunca teve problema para se definir como “uma besta sexual” que tinha “mulheres entrando pela porta e saindo pela janela constantemente”. “Você deve saber que estou louco”, explicava às secretárias quando as contratava. “E que sou viciado em sexo.” Ele também confessou sem hesitar que teve experiências homossexuais. “Nunca prestei muita atenção no que as pessoas pensam de mim”, explicou a Gary Carey para sua biografia The Only Contender. No entanto, cada revelação sobre seus escarcéus sexuais com homens continua sendo recebida com espanto, talvez porque Brando passou à História como o sujeito mais viril que pisou em Hollywood.
Brando era vulgar, se empanturrava com comida chinesa, tabletes inteiros de creme de amendoim e bolos de canela
Brando irrompeu numa Hollywood arrogante, cujas estrelas haviam despontado como a aristocracia da qual os Estados Unidos carecem. Uma ilusão coletiva onde Cary Grant transitava com a certeza de que todos os homens do mundo tentariam imitá-lo. E então Brando chegou – e fez amor de forma metafórica e (segundo a lenda) literal com Cary Grant. Brando era vulgar, se empanturrava com comida chinesa, tabletes inteiros de creme de amendoim e bolos de canela. E sua atitude em relação ao sexo era a mesma: insaciável, voraz e imprudente. Uma convulsão sexual surgida de uma primeira experiência, aos 4 anos, que o próprio Brando apontava como o princípio de todas as suas misérias. Sua mãe alcoólatra abandonou o marido, também alcoólatra e abusador, e os três filhos. E os deixou aos cuidados da babá, Ermi, que dormia com o pequeno Marlon. Ambos nus. “Uma noite, me sentei a lado dela, observando seu corpo e acariciando seus seios”, recordou Brando no documentário Listen to Me Marlon. “Me deitei em cima dela, era só minha, pertencia só a mim.”
Brando considerava que aquele despertar sexual não consumado o distanciou para sempre do mundo real. “Passei o resto da vida buscando-a”, confessou. Quando Ermi lhe disse que ia embora para viajar (na verdade, para se casar), Marlon se sentiu abandonado. E passou a vida tentando satisfazer essa frustração traumática.
"Ele não só tinha um físico predileto, mas também uma preferência psicológica. Não se sentia atraído por pessoas estáveis: em minha pesquisa, encontrei 22 mulheres que tinham mantido relações com ele e que haviam se suicidado ou tentado o suicídio”, diz sua biógrafa
“Brando descreveu aquela experiência com muita inocência, mas sua irmã sugeriu que a família considerou que foi um abuso por parte da babá”, explica Susan L. Mizruchi, autora do livro Brando’s Smile. “Aquele episódio levou Brando a ter essa compulsão com o sexo: queria praticá-lo todos os dias – e quanto mais, melhor. A babá era morena, com um aspecto exótico, e Brando se sentiu atraído por mulheres de físico similar. Ele não só tinha um físico predileto, mas também uma preferência psicológica. Não se sentia atraído por pessoas estáveis: em minha pesquisa, encontrei 22 mulheres que tinham mantido relações com ele e que haviam se suicidado ou tentado o suicídio.”
Brando se casou três vezes, todas elas com mulheres grávidas. Teve 11 filhos reconhecidos e um número incalculável de ilegítimos. “Nunca pôde se limitar a uma mulher. Tinha uma necessidade. E o sucesso e o poder lhe permitiam manter relações com quem desejasse”, diz Mizruchi. E, sim, isso incluía Richard Pryor, Marvin Gaye e James Baldwin. “[Brandon] tinha muitos interesses em comum com a comunidade negra. Essa afeição fez com que se sentisse atraído por artistas como o músico Miles Davis e o escritor James Baldwin”, afirma Mizruchi. “É inquestionável que, em certo momento, ele foi para a cama com Baldwin: para Brando, a amizade podia evoluir facilmente para o sexo. Se tivéssemos que lhe dar um rótulo seria heterossexual, mas ele era muito sensual e considerava que os apetites sexuais não tinham limites.”
Brando foi o primeiro astro de Hollywood a interpretar um homossexual, em Os Pecados de Todos Nós (John Huston, 1967), ao lado de Elizabeth Taylor (ele disse que nunca sentira atração por ela porque “tinha uma bunda pequena demais”, do mesmo modo que, em outra ocasião, disse que Sophia Loren “tinha o hálito de um dinossauro”). “Também foi um dos poucos que defenderam o escritor Tennessee Williams e denunciaram o tratamento cruel dos críticos por ele ser homossexual”, recorda Mizruchi.
“Nunca pôde se limitar a uma mulher. Tinha uma necessidade. E o sucesso e o poder lhe permitiam manter relações com quem desejasse”, diz Mizruchi. E, sim, isso incluía Richard Pryor, Marvin Gaye e James Baldwin
Com James Dean, algumas testemunhas dizem que Brando manteve uma relação sexual sadomasoquista. Segundo o escritor Stanley Haggart, Dean mostrava com orgulho algumas queimaduras em seu corpo, dizendo que Brando as havia feito com cigarro. Mizruchi também acredita que isso seja certo, mas Brando sempre negou, inclusive quando reconheceu suas aventuras com homens, em 1976. “Dean era submisso em relação a Brando: o reverenciava, sentia-se intimidado por ele, assim como o planeta inteiro”, explica Mizruchi. “Brando tinha uma relação estranha com sua própria fama, seu poder e sua autoridade. Sentia antipatia pelas pessoas que o idolatravam demais, e por isso acho que ele tratava Dean com certo desprezo.”
O certo é que houve um reencontro adulto entre Marlon e sua babá. “Quando representava Um Bonde Chamado Desejo na Broadway, com 23 anos, ela foi vê-lo no camarim e lhe pediu dinheiro”, conta Mizruchi. “Claro que ele deu, mas depois confessou que aquele reencontro partiu seu coração: ele estava apaixonado, e ela só queria seu dinheiro.” Para Ermi a relação não tinha significado nada, mas para Brando foi algo que marcou a vida toda. Transformou-o nessa besta sexual, com um desejo tão desmedido que, ao começar a escrever sua autobiografia, Brando teve que telefonar para Ursula Andress para perguntar se alguma vez eles tinham ido para a cama.