segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os Anos Dourados

Pode ser a fase que estou vivendo. Pode ser que meu medo do ‘mundo dos adultos’ me empurre na direção de um passado que acho que foi mais bonito do que o meu futuro será (eu só acho, porque no caso específico desse passado, eu não era nem um projeto). Ou pode ser que eu, pura e simplesmente, esteja ficando velha. Mais velha, dirão alguns. Mas, Deus, se é para fugir, por que não fugir para os anos 50? E existe década melhor, fase melhor, mundo melhor?


Eu sei meu leitor que pode parecer um reducionismo brutal e abobado transformar os anos cinquenta nos tais anos dourados. O mundo nunca foi inocente, puro, lindo ou; ai, meu Santo Antão, dourado. Então, não haveria motivo para considerar justo essa década um reduto de doçura ou felicidade. Eu sei!
Mas, ah, a Segunda Grande Guerra havia acabado de acabar, algumas das mulheres que participaram do esforço de guerra continuaram trabalhando fora de suas casas, tínhamos abandonado as ombreiras e os casaquinhos com corte marcial, e adotado os tecidos mais brilhantes, mais vaporosos, as cinturinhas marcadas, as saias pregueadas (aliás, ressuscitaríamos as famigeradas ombreiras na não menos famigerada década de 80, mas eu estou frágil e sofrida, não posso falar dos anos 80 hoje).
O mundo da década de 50 do século XX parecia seguro, um mundo que se dividia entre bons e maus, sins e nãos, comunas e capitalistas, nós e os outros. Acho que vem daí a atração que eu e tantos outros sentimos por essa década. Ainda que não fosse, porque NUNCA foi, o mundo pelo menos PARECIA seguro.
E envolta neste climão de escapismo e negação, eu mergulho em DVD’S deliciosos, redentores, não por acaso, estrelados por Doris Day, minha favorita em qualquer década.
Claro que nem todos os filmes dos anos 50 serviram ao escapismo alienado do qual eu falo com tanta felicidade. E numa semana vindoura podemos falar de alguns filmes pós-guerra que botam sua mufa pra queimar, babe.
Mas esta semana, vamos ser felizes para sempre. Vamos acreditar na virgindade da mocinha, na bondade humana, nos tradicionais valores americanos (e vamos também acreditar que somos americanos da década de 50), vamos acreditar que, com o fim da guerra, a vida vai mesmo melhorar, que os conflitos vão acabar e que o mundo se tornará um lugar mais justo, afinal de contas, o bem venceu. Os mocinhos ganharam.
Dançando e cantando, e sendo muitíssimo bem sucedida em tudo quanto foi ramo do show bussiness da primeira metade do século XX (e parte da segunda também), Doris Day foi responsável por mais dores na virilha do que se pode imaginar. O modelo de ‘moça virtuosa’ que ela encarnou em boa parte de seus filmes, serviu de exemplo para nossas românticas mamães e para nossos putificados papais, vá por mim. Se bem que, se sua mãe for remotamente parecida com a minha, devemos ter em mente que ela serviu de modelo inalcançável, hohoho, mas mesmo assim.
A vida dela não foi açucarada. Foi heavy-metal. Mas ela sorria na tela, ela ainda sorri, e cantando ou não, e sorrindo sempre, e com essa cara de boa-moça-sem-pensamentos-impuros, ela nos transporta para uma realidade encantadora, cálida, ao alcance das mãos de qualquer mocinha que fosse boazinha, que andasse na linha.

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